“Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.”
Mário de Sá-Carneiro
Lembro-me de ouvir foi pela primeira vez este poema de Mário de Sá-Carneiro na voz da Adriana Calcanhoto e suscitou-me algumas das seguintes interrogações:
A minha identidade depende da do outro? Há falta de definição de quem sou eu ou falta de pertença de quem narra este poema? Será “não ser eu, nem ser o outro” característico da adolescência ou na fase adulta?
Quantas vezes, dentro de mim interrogo: O que o outro vai pensar? Deixo-me influenciar pelas atitudes dos outros? Procuro consensos e sei dialogar? Como é a minha comunicação quando não concordo com o ponto de vista do outro? Sou assertivo, evitante ou agressivo?
Como prefiro tomar decisões? Procuro negociar? Dependo da opinião do outro ou prefiro afastar-me e decidir sozinho?
A metáfora da “ponte de tédio” ou atravessar uma ponte interminável e monótona pode sugerir desconexão, vazio, alguma despersonalização. Quantas vezes podemos sentir uma desconexão connosco mesmos e com os outros e isso ser causa de sofrimento?
A luta em encontrar a identidade pode causar angústia existencial, encontrando-se mundos tantas vezes estranhos e incompreensíveis ou experiências desafiantes.
Atravessar esta ponte pode também conduzir a novas oportunidades, novos insights sobre mim e o outro. Ir ao encontro do outro pode levar ao abraço, à alegria e à esperança. Acredito nisso, no potencial que habita em cada um e o quanto temos de caminhar para crescer, aceitar ou melhorar na relação connosco mesmo e com o outro.
Comentários