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Foto do escritorSofia Rodrigues

Consumir para viver?



CONSUMIR PARA VIVER?

Bauman (1998) e outros autores consideram que a maneira como a sociedade molda as pessoas é ditada pelo dever e capacidade de desempenharem o papel de consumidor. Acrescenta “se os nossos filósofos, poetas e pregadores morais refletiram se o homem trabalha para viver ou vive para trabalhar, hoje em dia é se é necessário consumir para viver ou se o homem vive para poder consumir.” (p.4).


Lipovetsky (2009) descreve o hiperconsumo das nossas sociedades e o domínio dos sistemas de referências hedonistas: “Com o capitalismo do consumo, o hedonismo impõe-se como valor supremo e as satisfações proporcionadas pelo mercado tornam-se caminho privilegiado para a busca de felicidade” (p.316). O consumo da componente estética ganhou também muito relevo e constitui também um vetor importante de afirmação identitária dos indivíduos (Lipovetsky & Serroy, 2014). Para estes autores, o indivíduo transestético é reflexivo, menos conformista com o passado, parece um “drogado do consumo, ansioso, obcecado com o descartável, a celeridade e os divertimentos fáceis” (p.36), “despojado de referências da sua cultura que domina o palco das sociedades hipermodernas” (p.37).


No entanto, consideram-se leituras pouco inaceitáveis as que referem que as significações e os ideais elevados tenham sido postos de parte que se traduzem em afirmações como: “A sociedade do hiperconsumo ganhou” e “o seu império devastador continuará a expandir-se, fazendo alastrar o conformismo generalizado, a preguiça, a incultura, a superficialidade e a incoerência das pessoas”, “as únicas finalidades dos indivíduos são a despesa fútil, o bem-estar e a saúde.” (Lipovetsky, 2009, p. 308).


Lipovetsky (2009) não reconhece o sistema de referências hedonista único considerando que “criar, construir, empreender, fazer melhor, ultrapassar-nos - todos estes valores e aspirações continuam a orientar-nos de forma mais ou menos decisiva na nossa vida” (p.308) e acrescenta que “existem obstáculos, contratendências que impedem o programa de hiperconsumo de se desenvolver indefinidamente” (p.308).


Construir pequenos “grandes” projetos de vida no mundo contemporâneo é, sem dúvida, uma urgente necessidade até mais do que uma “contratendência”, uma vez que dá ferramentas para as pessoas pensarem, atuarem, aprimorarem-se, podendo modificar as necessidades de consumo para outras necessidades e, desta forma, encontrar satisfações noutras fontes.


O desafio do futuro consiste na invenção de novos modos de educação e de trabalho que permitam aos indivíduos encontrar uma identidade e satisfações noutros universos que não o paraíso passageiro do consumo (Lipovetsky, 2009, p. 315). Continuamente estamos a reinventar novas formas de relação com a cultura, com a arte, com o tempo vivido.


A consulta psicológica pessoal e vocacional pode ajudar a refletir sobre estas questões, sobre as prioridades em diferentes áreas, apoiando na construção de novas formas de empreender na vida pessoal e profissional.



Bauman, Z. (1998). Globalization: The Human Consequences: Columbia University Press.

Lipovetsky, G. (2009). A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. Lisboa: Edições 70.

Lipovetsky, G., & Serroy, J. (2014). O Capitalismo estético na era da globalização. Lisboa: Edições 70.

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