O M., adolescente de 14 anos, encontrou-me várias vezes no pátio do recreio da escola e insistiu que havia um assunto importante que gostaria que escrevesse: sobre rejeição nas relações amorosas. Este tema não pode ser dissociado da construção da intimidade e da sua importância no desenvolvimento psicológico individual.
Na adolescência, fase por excelência da construção da identidade, o adolescente anda à procura de si próprio, através das relações com os outros e na exploração do mundo. Vivencia as emoções de forma intensa e os sentimentos de amor e paixão de forma profunda e o que pode, inclusivamente, afetar o seu desempenho escolar e causar um impacto significativo na sua autoestima e no seu bem-estar emocional.
Embora a maioria dos adolescentes esteja interessado em correr riscos, em ter experiências físicas e sociais, muitas vezes carrega a ansiedade de não conseguir partilhar pensamentos e sentimentos, a dificuldade em sentir-se aceite pelo grupo de pares e em partilhar interações íntimas recíprocas.
Segundo Costa (2005), “O estatuto de intimidade caracteriza sujeitos que valorizam o desenvolvimento de relações pautadas pela mutualidade e são capazes do respeito pelo outro e de investimento na resolução construtiva das diferenças. A pré-intimidade corresponde aos sujeitos que ainda não são, ainda capazes de investir numa relação de intimidade e para quem a ideia de compromisso suscita ambivalência.”.
A rejeição de uma relação na adolescência pode ter imensas causas: falta de vontade ou medo de iniciar um compromisso; incompatibilidade de interesses/valores/projetos de vida, não estar preparado/a para relações de intimidade, expectativas irrealistas ou mesmo pressão dos amigos/ expectativa social, falta de atração, dificuldade de expressão de afetos, vinculações inseguras, qualidade das relações familiares…
Amar e ser amado é essencial para a construção do self e para a capacidade de estar relações de intimidade com os outros, de respeito, partilha, empatia e compreensão (Costa, 2005). Não é linear a idade em que desenvolvem relações de intimidade mais maduras, fruto do desenvolvimento individual e em casal.
Deste modo, a intimidade e o desenvolvimento psicológico individual não pode ser reduzido a leituras simplistas, tem de ser sempre enquadrado na história de vida individual e familiar.
Costa, M.E.(2005). À procura de intimidade. Porto: Edições Asa.
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