A obra de Escher teve uma grande influência sobre mim, especialmente através da minha mãe, cujos olhos brilhavam enquanto me mostrava os livros e materiais didáticos que tínhamos lá em casa. Lembro-me de ficar curiosa e experimentar as formas e os conceitos, de modo empírico, utilizando os materiais didáticos.
Escher inspirou-me a desafiar a minha perspetiva do que é “real”, a apreciar a beleza da complexidade e padrões matemáticos e a fascinar-me com as ilusões óticas e paradoxos visuais.
De alguma forma, vejo um paralelismo entre a obra de Escher e a consulta psicológica, com os seus processos de metamorfose e transformação. No nosso mundo interior, as transições são graduais, por vezes imperceptíveis, muitas vezes lentas. Outras vezes não se conseguimos discernir claramente o que captamos da realidade, ou perceber quando a nossa percepção se transforma. Há metamorfoses que ocorrem, tal como quando a forma de peixes se transforma em pássaros, ou quando, numa figura, passamos a ver com mais clareza os pássaros.
Não sabemos exatamente o nos leva a ver com mais clareza determinado conteúdo da nossa vida. Muitas vezes, os nossos pensamentos, sentimentos e percepções misturam-se e transformam-se, por vezes por ínfimos detalhes e pequenas adaptações.
Ao longo do processo da consulta psicológica, pretende-se que se compreendam os nossos processos internos com mais nitidez, explorando-se os nossos padrões internos, contradições, expectativas e ilusões.
A consulta psicológica visa promover uma melhor organização mental e emocional, através da percepção ou da abertura a novas perspetivas e formas de entender a vida e os seus desafios.
A consulta psicológica envolve a reconstrução de pensamentos, emoções e comportamentos, exige humildade e um contexto securizante. Já a arte desafia, inspira, molda a nossa percepção e criatividade de forma significativa. Ambos envolvem processos complexos e constituem uma boa conjugação.
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