Joaquim Luís Coimbra, uma figura incontornável na História da FPCEUP, será homenageado no dia 20 de setembro, pelas 11:30, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).
São muitas as boas memórias que evoca, mas sublinho, sem dúvida, a importância da sua perspetiva crítica e humanista na área da orientação vocacional, bem como o seu contributo para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e comprometida com o bem comum.
"Em termos de orientação vocacional, a questão não reside numa vocação a descobrir, mas sim num itinerário a construir (e reconstruir) ao longo da vida (...); a certeza constitui, talvez, o ingrediente ideológico menos compatível com a lógica dos processos evolutivos, tanto a nível pessoal como social. O pressuposto da certeza é vizinho da crença na previsão, ambos legados, parcialmente, pelos excessos do positivismo no campo das ciências sociais, constituindo noções de reduzido peso ontológico. As realidades humanas e sociais não evoluem de forma previsível e, para esta constatação, não é indispensável, embora seja indubitavelmente útil, a convocação de conceitos como caos, desordem ou sistema fractal. As histórias de vida individuais, bem como a história das nossas sociedades, revelam claramente a impossibilidade e a inutilidade de tentar formular previsões fiáveis."
Joaquim Luís Coimbra (1997), in O meu “grande” projecto de vida ou os meus “pequenos” projectos: linearidade ou recorrência no desenvolvimento vocacional e suas implicações educativas.
Esta mensagem de J.L Coimbra é profundamente relevante para a área da orientação vocacional, pois sublinha que cada um de nós é autor da sua própria história, construindo a sua narrativa e sentido num processo dinâmico e contínuo ao longo da vida. Há uma crítica subjacente à procura de certezas absolutas no contexto da orientação vocacional e do desenvolvimento pessoal e social. Devemos questionar a crença, frequentemente herdada do positivismo, de que é possível prever de forma precisa e linear o futuro das escolhas individuais ou sociais.
Para J.L Coimbra, a necessidade de certeza é uma construção ideológica, uma forma de pensar que não reflete a realidade complexa e imprevisível das vidas humanas, ignorando a complexidade, a subjetividade e a imprevisibilidade do comportamento humano e social. Tanto ao nível pessoal como ao nível social, a evolução (ou desenvolvimento) é um processo dinâmico e, muitas vezes, imprevisível.
Para além da construção contínua do percurso pessoal e profissional, a orientação vocacional é um processo que deve:
Capacitar as pessoas a lidar com a incerteza, ajudando-as a tomar decisões informadas e refletidas, sem a ilusão de que essas decisões conduzirão a um caminho fixo e previsível.
Encorajar a reflexão contínua e a flexibilidade, permitindo que as pessoas reajam de forma mais aberta e fluida às mudanças nas suas vidas e no mercado de trabalho.
Promover a autonomia, a resiliência e a capacidade de adaptação às mudanças inevitáveis nas suas vidas pessoais e profissionais. Rejeita-se a ideia de que a carreira pode ser "planeada" com certezas absolutas, e apoia-se uma visão mais aberta e dinâmica dos percursos de vida e de trabalho.
Assim, a incerteza deve ser tratada como uma oportunidade e não como algo a ser evitado, valorizando-se a flexibilidade e a adaptação contínua num mundo em rápida mudança.
O processo de orientação vocacional não deve tentar oferecer certezas ou previsões sobre o futuro profissional das pessoas. Em vez disso, deve aceitar a incerteza e ajudar a navegá-la de forma consciente e flexível.
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